quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A evolução dos aparelhos fotográficos

    No séc. XIX, os primeiros aparelhos de tomada de vistas de Niepce, Talbot e Daguerre eram construídos segundo o princípio da câmara escura em uso depois do séc. XVII. Consistiam em duas caixas rectangulares de madeira que corriam uma na outra para realizar a focagem da imagem, com uma abertura para a objectiva e um lugar para a placa fotográfica (fig. 40).



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fig. 40 
 que se pensa que terá sido o primeiro aparelho comercial, foi concebido por Daguerre e fabricado por Alphonse  Giroux a partir de 1839 (fig. 40).
Durante as 4 décadas seguintes surgiram imensos "aparelhos fotográficos",  grandes e pequenos, dos mais simples aos mais complexos, como aparelhos de tomadas de vistas panorâmicas ou estereoscópicas. 
A primeira câmara de duas objectivas, com lentes interligadas de foco simultâneo foi fabricada a partir de 1880 por R. & J. Beck.
Em 1882, o inglês George Hare construiu um protótipo de uma câmara de fole que permitia passar do formato horizontal para o vertical. (fig. 41)


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fig. 41


Seguem-se anos de aperfeiçoamento e inovações nas "câmaras fotográficas", que muito dependeram também da evolução dos "filmes" fotográficos e das lentes que constituíam as objectivas. Neste campo é de realçar o contributo das fábricas de vidro da região de Jena na Alemanha, que construiram objectivas mais rápidas e que reduziam as distorções, e ainda visores para as câmaras, que as firmas alemãs Carl Zeiss e Carl Goerz comercializaram a partir de 1890. 
Também no fim da década de 80, começaram a surgir incluídos nas objectivas dispositivos constituídos por lamelas metálicas, chamados "obturadores de diafragma". Note-se que nos primeiros tempos da fotografia, a exposição realizava-se tirando manualmente a tampa da objectiva e contando o tempo tido como necessário para a mesma, tempo esse determinado a partir da experiência. Ainda hoje podemos ver câmaras a funcionar assim nos velhos fotógrafos ambulantes que andam pelas romarias e festas tradicionais do nosso país 
(fig. 42).


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fig. 42 - Fotógrafo de rua - Maia - 2006 (fotos A.C.)



Em 1888, S. McKellen registou a patente da primeira máquina "reflex" em que o espelho se deslocava automaticamente durante a exposição, pois estava ligado a um obturador de cortina.

A primeira câmara de grande divulgação, a Kodak produzida por George Eastman nos EUA, a partir de 1888, continha um rolo de filme com 6,35 cm de largura com o qual se obtiam cem exposições em forma de círculo. Quando o filme acabava a câmara tinha de ser devolvida ao fabricante onde era aberta e se fazia a revelação do filme e a positivação. Seguidamente era recarregada, lacrada e devolvida ao cliente.
Inicialmente o filme usado era sensibilizado em papel, mas em 1889, Eastman introduziu o primeiro filme sensibilizado em película transparente.


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fig. 43 - Publicidade da Kodak - 1889


Em 1895, Eastmen introduziu no mercado uma câmara mais pequena (media 10 cm de altura), chamada Pocket Kodak, que foi a primeira câmara produzida em massa. Só no primeiro ano venderam-se 100.000 unidades, o que era notável para a época.
Em 1900 a Eastman Kodak  lançou a Brownie, talvez a máquina fotográfica mais célebre na história, pois tornou a fotografia um meio de registo ao alcance de toda a gente. ABrownie proporcionava fotografias de qualidade (para a época), no formato 6x6 cm, sobre rolo de filme em cassete (fig. 44)




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fig. 44 - Kodak Brownie - 1900-1901

    
   

Desde o início do séc. XX a evolução das máquinas fez-se mais pelo refinamento e aperfeiçoamento do que por grandes invenções.
Destacaram-se nessa evolução a Linhof de 1910, câmara profissional de alta qualidade, e a  Vest Pocket Autographic Kodak de 1915, , entre muitas outras câmaras portáteis de utilização amadora da Kodak. 

Em 1924 surgiu a Ermanox, câmara lindíssima, com uma única chapa fotosensível e com uma objectiva de f2, muito luminosa para a época (fig. 45).
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fig. 45 - Ermanox - 1924



O formato 35 mm 
(negativos de 24x36 mm) já era usado nas películas cinematográficas e foi aplicado na fotografia em 1921 na  câmara Debrie Sept, contruída por A. Debrie em 1921, em França,  depois de tentativas anteriores realizadas em protótipos por vários fabricantes.Em 1925 surge a Leica de 35mm, (fig. 46) com objectiva f 1.9, que foi a precursora das actuais máquinas de 35mm não reflex, ou seja de visor directo, câmara usada por muitos fotógrafos, dos quais o maior exemplo terá sido Henri Cartier-Bresson.

Em 1928 a  Rolleiflex TLR (uma reflex com duas objectivas gémeas - TLR - "Twin-Lens Reflex"), é colocada no mercado e revela-se desde logo como uma excelente câmara de estúdio. 
(fig. 47)


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fig. 46 - Leica - 1925




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fig. 47 - Rolleiflex de objectivas gémeas - 1928


A primeira reflex SLR ("single-lens reflex" - reflex mono-objectiva) surge na década de 30. Até lá, os modelos SLR (ainda) não 35 mm, mais populares foram as russas  Exakta Vesthf_exaktaPocket, tendo sido criada em 1936 uma versão 35 mm, que foi provavelmente a primeira câmara 35 mm SLR.
Até à 2ª Guerra Mundial a maioria das câmaras utilizou filme em rolo - desde as mais básicas do tipo "caixote" até às Rolleiflex. As câmaras de 35 mm não eram muito divulgadas, sobretudo por causa do reduzido tamanho das provas de contacto feitas a partir dos negativos de 24x36 mm e também da fraca qualidade das objectivas nas máquinas mais baratas. (fig 48 à esquerda)
Em 1948 Edwin H. Land introduziu uma das câmaras mais importantes para a fotografia de amador, a Polaroid, (fig. 49) que permitia  a realização de fotografias instantâneas (estas eram sensibilizadas e reveladas dentro do próprio aparelho). Apesar das constantes evoluções as imagens instantâneas sempre foram de fraca definição/qualidade.


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fig. 49 - Polaroid - Edwin Land - 1948

Os melhoramentos introduzidos nas ópticas das objectivas e a produção em massa de
hf_nikon48máquinas reflex SLR de grande precisão, a partir das décadas de 50 e 60, com a entrada dos japoneses no mercado mundial, iniciada pela Nikon em 1948, (fig. 50, à esq.), tornaram as 35 mm SLR o modelo mais versátil e popular em todo o mundo, sendo particularmente usadas por foto-jornalistas e amadores avisados.
As câmaras de médio e grande formato ficaram essencialmente destinadas à moda, publicidade, retrato e recolha de documentos. Nas câmaras de médio formato destaca-se a Hasselblad, de origem sueca, como uma das mais utilizadas para trabalhos de estúdio. 
(fig. 51)




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fig. 51 - Publicidade da  Hasselblad original de 1948 



As inovações posteriores em termos de câmaras fotográficas tiveram essencialmente a ver com a evolução das objectivas, em particular as zoom de focal variável, com o avanço dos automatismos das câmaras e fotómetros incorporados e com a introdução do formato APS e do formato digital.
O APS 
("Advanced Photo System") foi uma nova geração de filmes (24 mm), máquinas e acessórios, lançada em 1996 pelos principais fabricantes de material fotográfico generalista - Kodak, Nikon, Canon, Minolta, Fuji, Agfa, Olympus e Konica. 
O Formato APS combina a química tradicional da fotografia a cores com a tecnologia digital, mas com a massificação da fotografia digital a a partir do início do séc. XXI, tem caído em desuso.

A importância da fotografia em sala de aula.

Inicio este texto com uma citação de Etienne Samain (2005), “As fotografias gostam de caçar na escuridão de nossas memórias. São infinitamente menos capazes de nos mostrar o mundo que de oferecê-lo ao nosso pensamento.” A fotografia é testemunha da história do mundo e exerce um grande poder de sedução na percepção estética, estimula a sensibilidade e exerce uma grande influência no nosso imaginário.

A fotografia é arte visual e é também um produto cultural e histórico, por isso supõe um espectador. Este, ao olhar uma fotografia, mantém uma relação com ela. Assim, fica claro que a atenção visual é um fator determinante na relação entre a fotografia e com quem a observa.



A fotografia é um texto e para ser compreendida tem que ser lida. Para que aconteça a leitura da imagem o aluno precisa conhecer os códigos da linguagem visual para que possa estabelecer uma relação com o mundo e assimilar as informações sobre o mesmo.

Ao utilizar a fotografia na sala de aula, o professor deve estimular seus alunos a ter sensações específicas, e ao observarem as fotografias propostas devem instigar a produzir novas imagens, sendo assim, cada aluno estará disposto a construir a imagem, da mesma maneira que a imagem irá construí-los.


Ao ser utilizada como recurso didático-pedagógico, a fotografia auxilia os alunos na maneira de ver o passado, uma imagem ‘congelada’ de uma situação ou espaço físico inserido na subjetividade de um realismo virtual.

A observação da fotografia faz com que o espectador reconheça alguma coisa na imagem que ele vê. A Fotografia é memória e com ela se confunde. É algo que ele sabe que existe ou existiu na realidade. Isso ativa a memória, causando-lhe um prazer específico. A este processo Aumont (2005) chama de ‘esquema’, ou seja, o processo da rememoração pela imagem.

A imagem existe na medida em que o seu espectador a percebe e a compreende, através de um conjunto de atos perceptivos e psíquicos. O professor poderá discutir esse aspecto com seus alunos em sala de aula. Isso se deve ao fato da percepção visual ser um processo quase experimental, ou seja, supõe expectativas e hipóteses que necessitam ser verificadas ou anuladas.

O professor pode estimular seus alunos a formarem um pensamento visual através da fotografia, ou seja, fazer com que discutam o que compreenderam sobre a fotografia apresentada, pois esta também possui um caráter ilusório, sendo mero reflexo da nossa imaginação, da maneira como queremos representar o mundo, a realidade. O professor poderá também ensinar os seus alunos a serem fotógrafos, a reproduzirem as aparências visíveis da realidade. Assim, os alunos poderão ter a chance de exprimir essa realidade, participando ativamente das imagens-mundo.



Fontes:
http://apedagogiadasmidias.blogspot.com.br/2010/08/importancia-da-fotografia-em-sala-de.html